Quando monumentos históricos ganham uma nova cara – e um bebê a tiracolo – o recado é claro: ser pai não é apenas "coisa de mulher".
Ativistas no Reino Unido protestam com estátuas masculinas carregando bebês, reivindicando um direito essencial: licença paternidade ampliada.
Era um dia qualquer, e lá estava um pai com sua filha pequena, passeando pelas ruas históricas de Londres. Quando ele parou para ajeitar o cadarço, ouviu a voz da menina, em tom de surpresa: "Olha pai, o homem está cuidando do filhinho dele!". Ele se virou, meio ressabiado, e deparou-se com uma cena inusitada.
Uma estátua masculina secular, que representava uma figura imponente da história britânica, agora carregava, em seu peito, um bebê em um canguru. O pai, inicialmente estranhando a visão, logo percebeu a força simbólica por trás daquele protesto.
Monumentos Históricos, Novos Significados
Esse foi o cenário de uma ação recente e criativa no Reino Unido, onde ativistas decidiram utilizar estátuas masculinas, ícones da história, como palco para um importante recado.
As esculturas, normalmente associadas à força e liderança, ganharam um acessório inesperado: bebês em marsúpios. Essa ação – conduzida por grupos que lutam pela ampliação da licença-paternidade no país, como a Pregnant Then Screwed, com o apoio da Mother Agency – viralizou nas redes e fez muita gente parar para refletir sobre um dos direitos mais negligenciados para os pais.
A motivação? Chamar atenção para a “pior licença-paternidade da Europa”, como destacou a Glamour Brasil. Enquanto alguns países oferecem meses de licença para que os pais possam estar presentes nos primeiros momentos da vida de seus filhos, o Reino Unido, até recentemente, oferecia míseras duas semanas. Uma disparidade chocante se comparada às políticas progressistas de países como Suécia e Islândia.
Gene Kelly na Leicester Square, Londres: "Se Gene dançava na chuva, agora ele dança com seu filho no colo. Mais licença para ser pai: coisa de homem, causa de amor." |
John Seward Johnson pegando um táxi: "De pegar um táxi a pegar o filho nos braços. Mais licença para ser pai: coisa de homem, causa de amor." |
Thierry Henry: "De fazer gols a embalar o filho no colo, Henry entende de conquistas. Mais licença para ser pai: coisa de homem, causa de amor." |
John Seward Johnson pegando um táxi: "De pegar um táxi a pegar o filho nos braços. Mais licença para ser pai: coisa de homem, causa de amor." |
Trabalhador em Londres: "Se esse trabalhador pode erguer o mundo, pode também segurar seu bebê. Mais licença para ser pai: coisa de homem, causa de amor." |
Licença para Ser Pai: Coisa de Homem, Causa de Amor
E aí está o ponto central da campanha: a paternidade não deve ser vista como um “favor” ou como uma ajuda à mãe. Pelo contrário, ser pai é assumir um papel ativo na criação dos filhos, no cuidado e na responsabilidade doméstica. Isso exige tempo e, principalmente, o direito à licença-paternidade ampliada. Afinal, cuidar dos filhos não é “coisa de mulher”. A licença-paternidade é tão importante quanto a maternidade para que o pai possa vivenciar plenamente esse momento tão importante.
Um Toque de Realidade Brasileira: Onde Estamos?
Mas, e no Brasil? Enquanto o Reino Unido luta por uma licença-paternidade mais robusta, onde estamos nesse debate?
A realidade aqui também não é das melhores. Apesar de a licença-paternidade ter avançado nos últimos anos, com empresas oferecendo cinco dias de folga garantidos por lei e algumas ampliando para 20 dias em caso de adesão ao Programa Empresa Cidadã, ainda estamos longe de uma política inclusiva e ampla para os pais brasileiros.
A situação brasileira reflete o quanto ainda há uma expectativa social de que o pai seja apenas "o ajudante", e não o cuidador principal. Com a licença-paternidade curta, é difícil para os homens assumirem um papel ativo na criação desde o nascimento. Algumas figuras políticas, como a deputada Tabata Amaral, são vozes que defendem a ampliação desse direito no Congresso, mas o caminho ainda é longo.
Repercussão e Importância da Ação
A ação das estátuas não apenas trouxe à tona uma discussão fundamental sobre os direitos dos pais, mas também cutucou a sociedade sobre a necessidade de uma mudança de mentalidade. Assim como as estátuas foram transformadas simbolicamente, a própria visão da paternidade precisa ser remodelada. Paternidade ativa é uma questão de igualdade, de formação de uma sociedade mais justa e equilibrada.
Da Escultura ao Futuro: Transformando a Cultura Paternal
Como qualquer campanha que propõe mudanças estruturais, o impacto da ação vai além das redes sociais. Segundo a Público, o movimento está longe de terminar. A esperança é que gestos simbólicos como esse pressionem legisladores e sociedade a reavaliar o papel dos pais nos cuidados familiares. Afinal, ser pai é mais que futebol no domingo ou churrasco no fim de semana; ser pai é cuidar, amar, e ter tempo para viver esses momentos.
Enquanto a licença-paternidade não avançar de forma substancial, os homens continuarão sendo, na maioria das vezes, os coadjuvantes nas histórias de cuidado dos filhos.
Top 10 Países para Licença-Parental (Melhor para Pior):
1. Suécia – 480 dias (80% pago)2. Finlândia – 328 dias3. Islândia – 9 meses (80% pago)4. Dinamarca – 52 semanas (integral/parcial)5. Bulgária – 410 dias (90% pago)6. Estônia – 140 dias (100% pago)7. Noruega – 49 semanas8. Bélgica – 15 semanas9. Lituânia – 156 semanas (licença compartilhada)10. Portugal – 120 dias (80% pago)
O Brasil, infelizmente, ocupa uma posição muito inferior nessa lista, com apenas 5 dias de licença-paternidade, ficando muito atrás de várias nações europeias.
Licença para ser pai: Coisa de homem, causa de amor. Se o Brasil adotasse plenamente esse princípio, provavelmente veríamos não apenas laços familiares mais fortes, mas uma mudança cultural em como entendemos a masculinidade e o papel de cuidar.
Sejamos Pais, Sejamos Iguais
Se o Reino Unido, com toda sua tradição e história, está levantando a bandeira para uma paternidade mais ativa, o Brasil também precisa entrar nesse debate. Precisamos de políticas públicas que incentivem os homens a serem pais de verdade, com tempo e espaço para participar plenamente da vida de seus filhos.
A licença-maternidade ampliada é só o começo. Como sociedade, precisamos garantir que os homens tenham o direito e a oportunidade de viver a paternidade de maneira completa.
Fontes Usadas:
• Público - Estátuas em Londres ganham bebê em marsúpio
[ https://www.publico.pt/2024/09/18/impar/noticia/estatuas-londres-ganharam-bebe-marsupio-pedir-aumento-licenca-parental-2104528 ]
• Folha de São Paulo - Ativistas reivindicam licença-paternidade no Reino Unido
[ https://f5.folha.uol.com.br/voceviu/2024/09/por-maior-licenca-paternidade-ativistas-poem-bonecas-em-estatuas-masculinas-no-reino-unido.shtml ]
• Glamour Brasil - Protestos pela licença-paternidade ampliada
[ https://glamour.globo.com/lifestyle/noticia/2024/09/ativistas-do-reino-unido-amarram-bebes-em-estatuas-para-protestar-contra-pior-licenca-paternidade-da-europa.ghtml ]
• World Economic Forum - Políticas globais de licença parental
[ https://www.weforum.org/ ]
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